Terminou na manhã deste domingo, 14, o III Seminário Nacional de Irmãos. O evento é uma organização da CRB
Nacional-Conferência dos Religiosos do Brasil e reuniu em Brasília desde o
último dia 11, 70 Irmãos Religiosos vindos de várias regiões do
Brasil e de outras nacionalidades como,: Alemanha, França, Filipinas,
Paraguai, Indonésia, Equador, Argentina, dentre outros. Os
Religiosos Irmãos partilham com a Vida Religiosa e a Igreja como um todo,
suas convicções, expectativas e esperanças a partir deste evento.
Mensagem Final do III Seminário Nacional de Irmãos
Oi que prazer, que alegria, o nosso encontro de irmãos! (Sl 133)
”Representantes
dos religiosos irmãos da Conferência dos Religiosos do Brasil realizaram em
Brasília, de 11 a 14 de outubro de 2012, o seu terceiro seminário nacional. O
primeiro deles aconteceu em Mendes, RJ, no ano de 1987. O Segundo seminário foi
realizado em Belo Horizonte, no ano de 2010. Este terceiro seminário contou com
a participação de setenta religiosos irmãos de dez nacionalidades, vindos de
treze estados do Brasil, e representando vinte diferentes congregações. O
seminário contou com uma presença significativa de irmãos jovens e teve como
tema Masculinidades, mística e missão do
irmão leigo! Esses três temas devem ser analisados
tendo como pano de fundo as mudanças culturais, religiosas, econômicas e
tecnológicas pelas quais as sociedades têm passado.
Há diferentes
formas de se configurar e estruturar a masculinidade, todas elas fruto de
construções culturais dos diferentes grupos em que nos inserimos durante a
formação da nossa personalidade. Importa confrontar essas masculinidades com a
proposta evangélica de Jesus. De uma maneira geral, a masculinidade que
prevaleceu no ocidente e mesmo no oriente, foi aquela calcada no exercício do
poder. Quanto mais intenso for o exercício do poder, mais o sujeito desse
poder – homem ou mulher – é considerado viril. Esse tipo de configuração de
masculinidade está na gênese das diferentes formas de violência – simbólica,
religiosa e física – que têm sido perpetradas ao longo dos tempos.
O próprio
Jesus denunciou a violência viril praticada pelos senhores deste mundo. Ele
denunciou que há, na natureza humana, um impulso para a dominação que deve ser
convertido em espírito de fraternidade. Jesus denunciou que os reis e
governantes deste mundo agem com poder-dominação sobre os demais e disfarçam
essa dominação sob o manto da benevolência (cf. Lc 22,24s). De maneira
idêntica, as autoridades religiosas do tempo de Jesus usavam a religião para
dominar e oprimir as pessoas.
Hoje, a tensão
vivenciada por Jesus em relação às autoridades religiosas do seu tempo, se
manifesta na tensão entre clérigos e leigos, estes últimos reclamando um espaço
de cidadania eclesial que lhes é negada na prática. Contrapondo a prática
calcada no poder dos senhores seculares e religiosos deste mundo, Jesus apresenta
a proposta do Reino e a natureza daqueles que nele tomam parte: todos são
irmãos e somente um é o Pai (cf. Mt 23,8).
Os religiosos
irmãos, vivendo uma masculinidade saudável, calcada na fraternidade e na
abertura às diferenças e aos diferentes, que não devem ser simplesmente
“tolerados”, mas acolhidos, compreendidos e respeitados em sua alteridade,
podem propor, com a sua forma de vida própria na Igreja e no mundo, uma
configuração mais evangélica e fraterna para a Igreja. Uma eclesiologia fundamentada
na fraternidade é o que propomos com a nossa forma de vida. Sintomaticamente, a
ignorância nos diferentes âmbitos da Igreja – mesmo dentro da Vida Consagrada –
acerca da nossa identidade fraterna e da nossa forma de vida revelam uma
alienação em relação à proposta de Jesus sobre a identidade fraterna dos seus
seguidores.
A imagem da Igreja
como uma fraternidade não emergiu nos modelos eclesiológicos do Vaticano II. E,
infelizmente, é forçoso reconhecer, nos cinquenta anos de abertura do Concílio
Ecumênico Vaticano II, mesmo o modelo de Igreja como Povo de Deus parece não
ter avançado significativamente em relação ao modelo tridentino de Igreja
centrado nos clérigos e em detrimento de todos os demais batizados, religiosos
irmãos, inclusive.
Uma masculinidade
saudável deve estar articulada com uma mística que conforme essa masculinidade
com o Evangelho. Nesse sentido, a Palavra de Deus lida a partir da realidade
onde nos inserimos é a fonte onde podemos buscar compreender como o humano por
excelência, o Filho de Deus encarnado, construiu e integrou a sua masculinidade
a partir das diferenças, dos conflitos e das amizades que ele estabeleceu: as
mulheres, as crianças, os estrangeiros, as prostitutas, os doutores da lei, os
escribas, os fariseus e outros sujeitos com quem ele conviveu ao longo da sua
missão.
A
masculinidade engloba, também, uma dimensão afetiva e sexual. Perguntamo-nos
como essas dimensões se fazem presentes no nosso diálogo quotidiano com Deus.
Nessa estrada de mão dupla que é a nossa vida e a nossa oração, construir uma
masculinidade evangélica possibilita-nos uma convivência fraterna, serena e
criativa.
Esse modelo
de homem/masculinidade que é Jesus é o sentido mesmo da nossa vida e da nossa
missão neste mundo. Ele é o modelo, é o primeiro entre os demais irmãos (cf. Hb
2,10-12) que buscamos anunciar com a nossa forma de vida. E, a partir do que
somos, podemos fazer algo benéfico para a humanidade nos diferentes contextos
socio-culturais e religiosos onde nos inserimos.
É necessário
compreender a missão de uma maneira diferente. Tanto na missão ad gentes,
quanto na missão inter gentes, o discípulo-missionário não é aquele que vai, em
primeiro lugar, para pregar e catequizar. Ele é alguém que, em processo
contínuo de configuração a Jesus-Irmão, busca construir a fraternidade no
meio da comunidade e dos povos onde ele se insere. A fraternidade proposta por
Jesus rompe com os critérios biológicos e clânicos e nos impulsiona em direção
a outros povos e a outras culturas para estabelecermos com eles relações
horizontais de fraternidade.
A experiência
de Deus nos desinstala. Ela faz de nós peregrinos em busca de um sentido para a
nossa vida. Projeta-nos em direção a outros povos e culturas, tornando-nos
forasteiros e, ao mesmo tempo, irmãos desses povos. Ao mesmo tempo,
lança-nos em busca de novas formas de encarnarmos o nosso carisma e a nossa
missão neste tempo em que nos é dado viver a graça de Deus. Nessa busca por
novas formas de vivência do nosso carisma, sentimos o peso das nossas instituições.
Não raras vezes, a “bagagem” das nossas instituições impedem a agilidade no
nosso peregrinar em direção às novas periferias e fronteiras. Também
podem dificultar a visibilidade e a vivência da nossa vida de irmãos.
Há algo que
levamos na nossa bagagem e no nosso coração quando partimos em missão: a
experiência de um Deus que se fez nosso irmão. Por outro lado, encontramos, no
meio das comunidades para onde somos enviados, a presença desse mesmo Deus, que
se manifesta na pluralidade de povos e de culturas.
Masculinidades,
mística e missão: de uma saudável articulação desses três elementos, nós,
religiosos irmãos, podemos passar do bom para o melhor no caminho do
discipulado. E, com os olhos fixos em Jesus-Irmão, a partir de onde estamos
inseridos na Igreja e sociedade, desafiados pelas novas periferias e
fronteiras, fermentar a Igreja com o nosso carisma e com a nossa forma de vida
específicos. Ter irmãos não é uma opção. Mas, ser irmão é uma vocação que todos
os batizados são chamados a acolher. E é esse um dos sentidos da vida dos
religiosos irmãos: serem sinais, na Igreja e no mundo, desse chamado universal
à fraternidade”.(Religiosos Irmãos participantes do 3º Seminário Nacional –
Brasília- DF)
Fonte: CRB Nacional
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